30 de setembro de 2015

«A família é pouco eclesial e as comunidades paroquiais pouco familiares»


O presidente do Conselho Pontifício para a Família, D. Vincenzo Paglia, acha que as comunidades fazem pouco para receber as famílias e as famílias pouco se interessam em se integrar na vida das comunidades paroquiais. Usando como exemplo o Evangelho de Lucas, o prelado explica que a melhor forma de levar a misericórdia aos outros é através da família. Tudo no seu novo livro "Uma casa rica de misericórdia", editado pela PAULUS Editora.


O que o levou a relacionar o Evangelho de Lucas com a Família e a Misericórdia?
Como sabe, o Evangelho de S. Lucas é chamado o Evangelho da Misericórdia pelas muitas passagens que mostram precisamente o amor visceral, misericordioso, apaixonado de Deus pelas suas criaturas. Emblemático de tudo isto é aquela parte das famosas três parábolas, precisamente da misericórdia, a que depois se segue a do bom samaritano. Neste contexto, a família inscreve-se num modo extraordinariamente eficaz, seja porque S. Lucas é o único evangelista que apresenta nos dois capítulos do Evangelho da infância de Jesus a família de Nazaré, mas também porque nas páginas de Lucas muitas vezes se fala de Jesus, embora também isto suceda nos outros evangelhos, como membro de uma família. Um exemplo, que vale para tudo, é a relação tão relevante e afetuosa de Jesus com a família de Lázaro, de Marta e de Maria. Por esta razão, pareceu-me bem que o Sínodo da Família, que de algum modo abre o Ano da Misericórdia, pudesse encontrar, precisamente, neste pequeno instrumento do Evangelho de S. Lucas comentado, uma oportunidade para todas as nossas famílias. Porque a misericórdia certamente faz parte essencial da vida, não só da família cristã, mas espero que de todas as famílias humanas.

A família é a base de toda a educação, incluindo a religiosa. É por isso que é tão necessário que a família se mantenha estruturada? 
Ninguém duvidará de que hoje a crise na qual a família se sente se encontra ligada também a uma aceleração de uma cultura secularizada que se afasta da fé. Numa humanidade em que a família se priva da dimensão religiosa, a família cansa-se de viver. E de certa forma encontra ainda maiores dificuldades na educação. É por isso que o Evangelho de S. Lucas, perspetivando a escolha que o próprio Deus fez para educar o seu Filho, teve necessidade da família: de uma mãe como Maria, e de um pai, ainda que putativo, como S. José. E foi extraordinariamente eficaz a síntese que S. Lucas faz a dada altura quando escreve: «Jesus crescia em sabedoria, idade e graça» (Lc 2,52;40). Uma vida como esta que não era, como se disséssemos, uma decoração. Na família de Nazaré realizaram-se muitas das nossas tensões contemporâneas; como por exemplo, a relação entre Maria e S. José no início. Pensemos na fuga para o Egito. Jesus, Maria e S. José tornam-se emigrantes. E depois, pensemos na relação entre pais e Filho na perda e encontro no Templo. Por fim, uma situação de luto quando Maria está sob a Cruz; e por aí adiante. Em suma, a família é realmente o lugar de provação radical bem ativa. E lá onde isto não acontece, aí nós temos que nos encontrar a recolher as tragédias que não tiveram este processo educativo desde a infância.

Muitos pais mandam os filhos à catequese ou à eucaristia, mas ficam em casa. Qual a importância do exemplo dos pais na educação religiosa dos filhos? 
Este é um dos pontos mais importantes da vida da igreja de hoje, em minha opinião. Existe como que uma separação entre a família e a comunidade cristã. Uma fossa, que permanece quando se enviam os filhos para a paróquia. Porquê? A família é pouco eclesial e as comunidades paroquiais pouco familiares. Pelo que, uma torna-se uma espécie de recinto fechado, e a outra torna-se uma realidade funcional, exterior. Neste sentido, ouso brincar um bocadinho afirmando que, neste sentido, é indispensável que os pais levem para a comunidade os seus filhos, desde a idade do berço. Sem esta dimensão, não é possível a evangelização. A brincadeira que me vem à ideia é esta: como o filho entra como membro da família, através do aleitamento, o amor da mãe, a voz do pai e o desvelo dos avós, a evangelização torna-se possível através do odor das velas, o cheiro do incenso, a visão dos que atuam à volta do altar. Se depois é verdade que os primeiros três anos são os que constroem o âmago duma personalidade, compreende-se que de nada vale esconder uma criança desde que nasceu e apenas levá-la aos sete anos para a paróquia para a primeira Comunhão. Temos que recriar intimidade entre família e paróquia. A nós ambas nos servem.

Pede que as famílias leiam juntas o Evangelho de Lucas. Como podem elas arranjar tempo, na sociedade de hoje? 
É o desafio de «rezar sempre», como dizia Jesus. Se vivemos numa sociedade em que a pressa e o caos são de casa, «rezar sempre sem nunca nos cansarmos» significa rezar pelo menos cinco minutos por dia, juntos em família. Neste sentido, o Evangelho de S. Lucas que publicámos, nas edições Paulus em várias línguas, é um instrumento para o que chamarei a lectio divina popular ou familiar. Quando eu era bispo de Terni, uma senhora contou-me, quando então distribuía estes evangelhos nas minhas visitas às famílias da diocese, a sua alegria porque todas as noites antes da ceia liam em família um ou dois versículos do Evangelho com um comentário muito breve. E esta é uma maneira de fazer as famílias discípulas de Jesus. Em suma, aquela Maria, irmã de Marta, ensina-nos que estes cinco minutos poderão ser a «melhor parte» (Lc 10,42) dos nossos dias.


Neste ano da Misericórdia, como podem as famílias exercer essa misericórdia entre elas? 
Eu penso que este Ano de Misericórdia é um pouco como Jesus: anunciou em Nazaré um ano de graça, durante o qual a dimensão do dom, da gratuidade, deve aparecer de muitos modos nas famílias. O Papa Francisco deu-nos aquelas famosas três palavras: desculpa, por favor, obrigado! São três palavras que podem declinar-se durante o Ano da Misericórdia, ou melhor dizendo, a jornada de um Ano de Misericórdia. Claro, tudo isto se deve passar na paróquia, mas também tomá-lo como hábito de vida, na vida ordinária, no trabalho, no mercado, na rua, em todo o lado. Na verdade, trata-se de transformar a vida não apenas vivendo melhor, mas até conduzindo-a mais graciosamente. A gratuidade falta-nos muito nas nossas relações. Tudo se faz como se fosse um comércio: dou-te para que me dês; quanto custa; quanto devo gastar... Precisamos de mais atitudes graciosas, de algo mais de «grátis» nas nossas relações. E a Misericórdia entra nisto, porque Deus opera sempre graciosamente em favor de todos, especialmente em favor dos mais necessitados.

«Na Igreja celebramos o casamento, mas depois não acompanhamos as famílias»


D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, falou à Família Cristã sobre o Sínodo que agora se inicia, revelando que espera decisões concretas da parte do Papa. Para o prelado do Porto, a principal preocupação está na integração dos casais na comunidade, num caminho que se inicia na preparação para o matrimónio, que deve ser mais exigente, e continua depois do matrimónio, num acompanhamento que as comunidades ainda não dão aos seus casais.

O Papa tem tentado chamar a atenção para a família, marcando estes dois sínodos e dedicando as suas catequeses semanais a esta temática. É uma estratégia que está a resultar? As pessoas estão, de facto, a olhar mais para a família? 
Eu penso que foi uma pedagogia muito própria do Papa Francisco, que eu admiro. Ajudou-nos a compreender que a decisão do Sínodo sobre a Família era uma decisão dele, rezada junto de Deus. Ao chegar, o Papa Francisco trazia esta preocupação e este sonho de colocar a igreja disponível para refletir sobre a família. Foi uma pedagogia nova, pois ele quis realizar o Sínodo em dois momentos. Primeiro numa assembleia extraordinário, em que quis auscultar todo o mundo, independentemente de serem cristãos ou não. Procurou que aí se afirmasse e revelasse o que o mundo e a sociedade pensa da família, não apenas a igreja. Agora, com esta segunda fase, ele procurou devolver essa reflexão às nossas dioceses para que lhe digamos aquilo que pensamos e sonhamos para a família.

Mas a estratégia de facto levou as pessoas a discutir mais a família? 
Teve frutos práticos em três vertentes: valorizámos a família no que de melhor e mais sagrado tem, que é fonte de vida, espaço do amor e escola da educação e igreja doméstica; veio dizer à humanidade inteira, que deu grande atenção à decisão do Papa, que a família é importante, e nós na sociedade muitas vezes não damos essa importância e desvalorizamos aquilo que ela mais precisa, que é o respeito e ajuda de todos nós; em terceiro lugar veio dizer que a ação pastoral tem de ser diferente. Precisamos de ter mais atenção quer à preparação das famílias, quer ao acompanhamento depois da celebração dos sacramentos. Muitas vezes a igreja tem esquecido esse acompanhamento espiritual, humano, de integração na comunidade, de ajuda nos momentos difíceis.
A Igreja tem de fazer aí um imenso caminho. Há muito trabalho feito, valorizemo-lo, mas há ainda um grande caminho para andar, e muita forma diferente de acompanhamento e acolhimento, e mesmo de valorização dos movimentos de espiritualidade familiar, ao qual não temos dado tanta atenção como deveríamos ter dado.

No relatório final do Sínodo extraordinário, falou-se da necessidade das famílias serem sujeitos de evangelização, em vez de meros objetos de evangelização. As famílias já compreenderam esta urgência de se “chegarem à frente”? 
Eu creio que esse é um dos dados mais valiosos do relatório final e uma das descobertas que quem está mais atenta à vida das igrejas diocesanas há muito o fez, mas que nem sempre deu a visibilidade e importância e até a capacidade institucional necessária. Nós setorizamos demasiado a pastoral. Fizemos catequese para as crianças, pastoral de saúde para os doentes, serviço social aos idosos, tivemos algum acompanhamento nos movimentos de casais, mas nem nas comunidades promovíamos momentos em que toda a família podia estar reunida. Ultimamente a catequese deu-se conta que o melhor caminho é valorizar a catequese familiar, e a pastoral deu-se conta que, mais do que setorizar iniciativas, temos de valorizar a família no seu todo.
Esta é hoje uma realidade palpável e só não vê isso quem não quer, e por isso é necessário que todos nos mobilizemos para isso. A minha experiência dos anos mais recentes diz-me que sempre que fizemos propostas para a família, os resultados foram mais eficientes, sólidos e continuados no tempo. Em Portugal este é um caminho obrigatório para a Igreja.

Parece-lhe mais importante que do Sínodo saiam contributos para o Papa mais na área da prevenção (preparação para o matrimónio, formação dos sacerdotes, planeamento familiar), ou na área dos paliativos (nulidade, comunhão dos recasados, etc)?
Todos esperamos muito do Sínodo, e é bom que o façamos, pois foi nesse sentido que o Papa o propôs. Esperamos muito em todas as vertentes, e é normal que esperemos caminhos novos. Embora esta exportação apostólica não seja pós-sinodal, o Papa ensinou-nos a não fazermos apenas grandes reflexões pastorais, mas a abrir caminhos de propostas concretas. Aquilo que espero do Sínodo é que, com o contributo de todos nós, que tem sido muito responsável da parte de todos nós, bispos, sacerdotes e todas as bases, os padres sinodais tenham todas as possibilidades de, com o caminho já feito, darem ao Santo Padre o verdadeiro pensar da Igreja. O Santo Padre dar-nos-á depois caminhos novos e propostas concretas que nos vão ajudar a preparar a família a ser família, a ajudar a família a viver feliz, como família cristã, e ao mesmo tempo a ir ao encontro das situações mais difíceis, que é preciso ajudar.

Precisamos de uma preparação para o matrimónio mais exigente?
Penso que há experiências em algumas dioceses em Portugal onde a preparação começa com mais tempo. Há outro elemento que é importante: que a preparação seja feita na comunidade, não apenas no cartório paroquial, ou com uma equipa em reuniões com o sacerdote.
Mas precisamos é de acompanhar depois do matrimónio. Penso que a lacuna maior da pastoral da Igreja na relação com as famílias não foi na preparação, foi no acompanhamento dos novos casais e das famílias no seu todo. A comunidade precisa de se responsabilizar pela celebração do casamento. Na preparação para o casamento, precisamos de implicar a comunidade paroquial no acompanhamento destes casais, para que eles sejam parte integrante da vida da comunidade. O que tem faltado muito na Igreja é que nós celebramos o casamento mas depois não acompanhamos as famílias, não as sentimos inseridas. Preocupamo-nos com os crismandos, e que os crismados devem ficar integrados nas atividades da Igreja. Porque é que não fazemos o mesmo com quem celebra o sacramento do matrimónio? É um sacramento de integração na vida comunitária…

E como é que esse acompanhamento pode ser feito? 
Pode ser feito não colando apenas a preparação do matrimónio com a cerimónia. Temos de preparar os casais de noivos para a vida da comunidade. Muitos destes casais só os encontramos quando trazem os filhos para o batismo ou a catequese, e portanto nós temos a possibilidade de integrar os jovens casais na vida da comunidade, porque a comunidade é que evangeliza.

Uma integração pré-matrimónio ou pós? 
A integração deve ser feita durante a preparação para o matrimónio, para que eles possam descobrir como vão viver a sua vida matrimonial e familiar integrados naquela comunidade que os recebeu e os preparou para o matrimónio.


Isso implicará uma preparação mais estendida no tempo? 
Sim, mais estendida no tempo e mais aberta à comunidade. A dimensão da descoberta da comunidade onde se vão fixar, que nem sempre é a comunidade onde se casam, é muito importante. Estive com alguns casais que me diziam “estou há cinco anos nesta comunidade, venho todos os fins-de-semana à missa, temos três crianças que vão iniciar a catequese e nunca ninguém me perguntou quem eu era, de onde era e porque estava ali”. As comunidades têm de se abrir a este acolhimento dos casais novos. Nas áreas urbanas é difícil, mas é possível, porque se a preparação para o casamento leva as pessoas a descobrirem a comunidade onde vão estar inseridas, a partir daí é possível que a comunidade valorize o dom de uma nova família que vem ali ao seu encontro.

Mas falamos em participação nos serviço da paróquia, apresentação na eucaristia, o quê exatamente? 
De tudo isso. A minha experiência de sacerdote era, ao longo do primeiro ano, fazer um acompanhamento que lhes permitisse alguma privacidade, para se adaptarem à realidade da família, terem tempo para criarem uma certa autonomia, mas também tempo para descobrirem que a comunidade onde eles vivem têm espaços que estão livres para a sua missão, e muitos deles foram integrando-se na catequese, nas atividades de cariz social, na liturgia. Há muitos casais novos que se valorizaram muito através da participação na liturgia, ou noutras instâncias. Quantos foram integrados no conselho pastoral, na preparação do casamento de outros, ou até na constituição de equipas de casais. Mas sobretudo fazê-lo integrando-se na comunidade. Creio que as famílias jovens cristãs precisam de saber que o fazem numa envolvência de aconchego, integração e necessidade pastoral da comunidade que os recebe.

«Estamos [Igreja] ainda muito longe de dar as respostas que os casais merecem»

E isso é a chave para evitar as situações de sofrimento no futuro? 
É sobretudo a certeza de que não estão sós. Nos momentos felizes partilham a felicidade, e nos momentos de dor, rutura, e provação, sabem que encontrarão sempre membros da comunidade que estão ao lado deles para os ouvir e acolher. Eu creio que a dimensão da preparação para o matrimónio precisa desta vertente nova de saberem que todo o caminho que fazemos como cristãos não o fazemos como ilhas isoladas, mas que o fazem integrados numa comunidade paroquial, vicarial e diocesana. Precisamos de dar aos jovens casais esta descoberta da realidade da comunidade em si. O valor da comunidade não está suficientemente afirmado na preparação para o matrimónio, e é necessário que naquela comunidade saibam quantos casamentos ali se realizaram, e que têm ali um espaço para viverem como família cristã. É um contributo necessário não apenas para eles, mas no bem que podem fazer ao outro.


Há espaço na doutrina para ponderar a possibilidade de um acesso dos divorciados e recasados à comunhão, passando por um processo penitencial, como alguns avançaram no sínodo do ano passado? 
Nessa perspetiva, o Santo Padre pediu-nos que disséssemos o que pensávamos. Sabemos que há famílias que passam por situações de grandes provações. Aguardamos que o Papa nos diga também aquilo que ele pensa e nos propõe. Da nossa parte, devemos estar disponíveis para caminhar em Igreja, sentindo que muitas vezes o problema, posto desta forma só com a comunhão, é ver as coisas apenas por um lado. Mas também não nos devemos esquecer no sofrimento que estas famílias têm de não poderem comungar e de não poderem participar em pleno. As situações são muito diferenciadas e cada um tem o seu percurso de vida, e é importante que a Igreja saiba caminhar com cada família, com cada pessoa de modo muito personalizado, e isso tem-nos faltado. Estabelecemos normas, e elas são importante, mas elas não nos devem dispensar de fazer um caminho com essas pessoas.

Um caminho que pode levar a ponderar essa possibilidade, em circunstâncias específicas?
Pode levar-nos, em algumas circunstâncias específicas, a ajudá-los a perceber, em primeiro lugar e como dizia o Papa, da validade do seu casamento. Temos de ajudar a valorizar isso, e há situações em que precisamos de ajudar na questão da validade do mesmo. Depois há um processo espiritual para as outras situações, a aguardamos com serenidade aquilo que o Espírito Santo e o Papa irão dizer à Igreja, pois é isso que sempre se fez na Igreja desde o Concílio de Jerusalém. Esta espera não nos livre de acompanharmos todos os dias os casais que sofrem e de acolher os que não podem receber esses sacramentos. Estamos ainda muito longe de dar as respostas que os casais merecem.

Segundas uniões são «um assunto que precisa de ser estudado à luz dessa [dos dias de hoje] realidade»


D. Joseph Coutts, presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, esteve no primeiro Sínodo, o ano passado, mas não estará neste, em virtude terem escolhido outros participantes para enviar como representantes do seu país, na vontade de «dar lugar a bispos mais novos», referiu o prelado. Mas isso não o impede de ter a sua opinião sobre alguns dos assuntos que vão estar em cima da mesa no Sínodo que se inicia no próximo dia 4.


Quais são os assuntos mais importantes que o Paquistão quer levar ao Sínodo de outubro?
A coisa boa é que o processo todo dos sínodos permite a participação de todos os países. Assim, se as nossas questões não forem abordadas, o problema não está no sínodo, está connosco, a falha será nossa. Divórcio e recasamento é um problema para nós, mas de uma forma diferente da Europa. Num país como o Paquistão, onde a taxa de literacia é pouco acima de 50%, os cristãos estão organizados, mas aparecem sempre uma série de pastores evangelistas que criam igrejas próprias com nomes muito bonitos, e isso confunde os cristãos que não têm formação.
Depois, o nosso governo reconhece o casamento religioso como válido, não é preciso casamento civil. Portanto, se um cristão quiser deixar a sua mulher, é possível que possam mudar-se apenas de cidade, pagar algum dinheiro a um destes pastores, que celebra o casamento sem saber que outro casamento já existe, e tudo fica legalizado. Sei que aqui isso não acontece, mas para nós é algo que sucede muito.

E, na sua opinião, as segundas uniões não são possíveis dentro da Igreja Católica? 
O processo, mesmo que o casamento tenha falhado e haja bom motivo para o anular, é tão longo que se encontram atalhos. Isto é uma teologia que ainda não desenvolvemos. Nós pomos as coisas do casamento num pedestal ideal que exige fidelidade até ao fim, e nem sempre é possível ao ser humano viver segundo esse ideal para sempre. O mesmo acontece no celibato dos sacerdotes. Mas aí é possível pedir dispensa do celibato, mas é mais difícil conseguir a anulação de um casamento. Há outras igrejas cristãs, como os ortodoxos, que têm outras práticas, pelo que penso que é um assunto que precisa de ser estudado à luz dessa realidade. Entretanto, o ponto que o Papa fala é o da misericórdia. Cristo representa o amor e a misericórdia de Deus, não apenas o cumprimento de leis que temos de obedecer.

As pessoas precisam de uma aproximação mais misericordiosa? 
Sim, precisam. Mas como vamos fazê-lo, sem tornar isto uma regra? É por isso que o Sínodo será muito duro. No final, espero que estas questões tenham resposta, embora saiba que não será fácil. Até porque estas questões vão levantar alguma fricção, como fez Jesus no seu tempo, quando perdoou as pessoas ou se sentou com pecadores.

Alguns dos participantes queixaram-se que as suas necessidades foram deixadas de lado no Sínodo ou na comunicação social, pelo menos.
Acho que isso aconteceu, de alguma forma. Mas os problemas do Mundo Ocidental são muito diferentes dos nossos. A poligamia em África é um deles. Podem ter uma família grande, que vive feliz numa grande casa, e depois temos de dizer ao chefe tribal que quer ser batizado que ele tem de mandar para casa 3 das 4 mulheres que tem. De acordo com a cultura deles, isso não era problema, e agora temos de dividir a família, e isso abriu-nos os olhos. Nos países asiáticos e em alguns africanos há a ideia de que a homossexualidade e o casamento é algo que não pode existir. Não é comum para nós, mas isso é diferente de aceitar pessoas que são homossexuais. Mas usar o termo casamento para nós também não é aceitável de todo.

Teme algum Cisma na Igreja por causa disto? 
Não creio. Depois do Vaticano II, as mudanças começaram a chegar e nós tínhamos um cardeal cuja lema era “sem mudança”, mas mesmo ele acabou por ir mudando. Haverá tensões, mas não vejo em que possa resultar dali uma divisão séria.
Temos de estudar bem os assuntos e saber bem o que queremos, porque não podemos dar a impressão de que estamos simplesmente a deitar à rua tradições que estão aqui há milhares de anos, mas sim olhar para elas sob uma nova luz, uma luz mais abrangente e, se essa luz sugerir mudanças, então elas devem ser feitas.

21 de setembro de 2015

Cardeal Patriarca quer «reorganizar a Igreja em chave familiar»



D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa, falou à Família Cristã sobre as suas expectativas antes de iniciar o Sínodo da Família, onde o prelado será um dos dois representantes dos bispos português, em conjunto com D. Antonino Dias, bispo de Portalegre e Castelo Branco.

Este Sínodo é o culminar de dois anos intensos sobre a família. Esta “estratégia”, quase de marketing, do Papa Francisco, que procurava colocar a família no centro das atenções de crentes e não crentes, resultou?
Eu creio que sim, e vou explicar porquê. Porque foi um processo eclesial propriamente dito, e um processo desses envolve o mais possível os membros da Igreja. Sendo que, esta assembleia sinodal, e é bom que se tenha isso em conta, é distinta da anterior, que era sobre os desafios à família. Esta será sobre a missão da família na Igreja e na sociedade. Será muito mais projetiva, já que não se pode dizer muito mais sobre o que se disse no ano passado, e o que saiu naquela série de proposições que foram votadas e que o Papa quis que fossem manifestas as votações que cada proposição tinha tido, até para se poder aquilatar quais os pontos em que há consenso geral e mais problemáticos, mas sobre isso haverá pouco a dizer. Agora neste contexto o que esperamos das famílias, dentro da visão cristã da família, que é aquela em que Jesus se apresenta, não nos vão pedir outra, que não somos a ONU, somos a Igreja Católica. E é bom insistir nisto, porque parece que às vezes há uma certa expetativa algo despistada. Esperam que a Igreja apresente linha de atuação da família que não tenham em conta aquilo que a define e valida como Igreja, que é a proposta que está. Naturalmente que tem de ser aprofundada, atualizada e aplicada com aquilo que é de hoje, mas que é a proposta que está.

Quais são as preocupações que a Igreja portuguesa vai levar?
Em primeiro lugar, a necessidade de preparar e acompanhar, ao longo da vida, as famílias cristãs. Levar por diante um processo matrimonial, paternal e agora com avós, à luz do Evangelho, tem de ser preparado, consciencializado, e tem de ser acompanhado. Não pode ficar reduzido a uns meses antes, em que aparece um casal que se quer casar, faz-se um curso de preparação para o matrimónio com meia dúzia, ou às vezes nem isso, e pronto, “estão casados, agora aguentem-se”, para falar mal e depressa. Não é isto. Trata-se de algo tão importante na ordem sacramental, em que o próprio Deus está incluído, que requer muita consciência, muita preparação e muito acompanhamento. Porque uma vida tem crises a ultrapassar e superar, e sozinhos é muito difícil, para não dizer impossível. A grande questão que se põe é como que nós, comunidades cristãos, vamos, nas nossas famílias, paróquias, comunidades e movimentos, preparar e apoiar o matrimónio cristão. Isto vai levar, e a minha intervenção vai ser nesse sentido, a uma reorganização da vida cristã em chave familiar.


E como se fará essa reorganização?
Isto é importante para a Igreja, que nem sempre vive assim. Mesmo em casos de militância, falamos do homem ou da mulher, mas não sabemos se é casado, se é viúvo, se tem filhos… há aqui uma relação familiar que tem de estar muito mais presente na comunidade cristã, para que ela seja, como já pedia o Papa João Paulo II, uma família de famílias, e não em termos individuais. E se a Igreja conseguir avançar para uma organização em chave familiar, isto pode ser um grande estímulo para a sociedade, que também não vive assim. A nossa sociedade vive, infelizmente, e desfaz-se mais do que se constrói, em torno de duas abstrações: o indivíduo, que é o ser sem relações, e o termo massas, que é o ser sem rosto. Reparamos que é assim na vida profissional, até na desportiva, em que se contam mais as pessoas individuais, ou as massas, mas sem entrar em linha de conta com a rede familiar.

E como é que conseguiríamos organizar a Igreja e a sociedade em chave familiar? 
Bom, começamos pela Igreja, que é aquilo que nos compete. De resto, participamos como cidadãos. No que diz respeito à Igreja… bom, pelo exemplo é mais fácil. Olhamos para uma paróquia e dizemos que tem 2 ou 3 mil praticantes dominicais, e fazemos censos e estatísticas. Não é muito mais interessante dizer “eu nesta paróquia tenho 253 famílias”? Em que a base e a estruturação, a vida sacramental, o batismo dos filhos que já provieram do matrimónio dos pais, a iniciação cristã, conta muito mais com a base familiar, do que com a abstração individual. Quantas famílias são? Mesmo que depois haja algum individual que por esta ou aquela razão não tem família, e se inclui também. E aqui toca-se um ponto doutrinal: nós somos cristãos porquê? Como todos os religiosos, acreditamos em Deus, certo. Não estamos cá por acaso nem sozinho, acreditamos que alguém nos precede e nos espera, como as pessoas de todas as religiões. Mas isto é ser religioso, no sentido de estar ligado a Deus. Mas ser cristão é outra coisa: é dentro deste fundo comum, que compartilhamos com todas as pessoas crentes, nós situamos a nossa relação com Deus na pessoa de Jesus Cristo. E eu disse pessoa, não indivíduo. Porque Jesus teve mãe, um pai adotivo, parentes que são referenciados no Evangelho, Jesus vive 30 anos em contexto familiar e de trabalho, numa terra, com vizinhos. Nós não falamos em abstrações. Quando um cristão pensa em Deus e como Deus se revela, pensa numa família, que foi a família de Nazaré, que aliás foi emigrante à força no Egito. Pensamos na carpintaria de Nazaré, naquele contexto local em que foi bem recebido umas vezes e outras não. Pensamos na sinagoga, pois Jesus era um judeu praticante e não ia à missa ao domingo, mas sim à sinagoga ao sábado. Há um contexto local, familiar, de vizinhança, que nós cristãos acreditamos que é a própria revelação de Deus. E por isso a família não é algo acessório

Mas se sabem assim tão bem, porque é que ainda não vivemos nessa chave familiar?
Temos de viver mais, temos de ser operativos e viver mais. Mas julgo que é porque ainda somos subsidiários dessas abstrações. Pensamos em indivíduos mais ou menos sem relação, ou pensamos em massas. Mas essa não é a maneira evangélica de pensar as coisas, não foi essa a Revelação cristã. E mais! Lemos os textos do Novo Testamento, que dizem respeito as primeiras comunidades cristãs, e verificamos que elas também têm chave familiar. É muito interessante ver S. Paulo dizer que batizou a casa de fulano, a família de fulano. A primeira referência de Paulo à Europa é a família da Lídia que ele encontrou e foi a sua casa. Quando Paulo fala a Timóteo, não lhe fala da fé, diz-lhe “não te esqueças da fé que recebeste da tua mãe Eunice e da tua avó Loíde”. Não podia haver igrejas, como temos agora, e a comunidade funcionava em casa deste e daquele. O casal importante de Aquila e Priscila onde funcionavam as comunidades.

Este motu proprio sobre a nulidade matrimonial vem colocar mais responsabilidade sobre os ombros dos bispos, com a criação do processo breve. Não sei se o Papa terá falado convosco sobre o motu proprio, mas o que é que ele traz de novo?
Na linha de coisas que tinham sido pedidas e insistidas na última assembleia sinodal, que se facilite o que pode ser facilitado. Atenção que o sacramento é uma coisa séria, e portanto quando de uma maneira consciente, responsável e livre um homem e uma mulher se aceitam como esposas perante Deus, nós, Igreja, não temos qualquer espécie de poder ou autoridade para interferir. Agora o que podemos e devemos é não só preparar esse momento, e daí a tal aplicação muito maior na formação para o matrimónio cristão, para as pessoas perceberem do que se trata e tenham uma base experimental onde isso possa assentar, e depois verificar se isso aconteceu assim. E é em relação a estas circunstâncias que se facilita o processo, no sentido de ser só numa instância, e de não precisar de ir a outra diocese para confirmação – sempre com o direito a apelarem os que não ficarem satisfeitos – com mais envolvimento do bispo diocesano, dispensando algumas formalidades quando os casos são muito evidentes. Tudo no sentido da verdade do que aconteceu e na respetiva verificação.

Muitos bispos não têm formação em direito canónico, mas o Papa pede que sejam eles a julgar estas situações. Não tem receio que isto possa vulgarizar a declaração de nulidade e criar quase um divórcio religioso? 
Isso, meu amigo, nisto como em todos os casos, é a consciência que cada um tem ou não tem. Se estamos a tratar de algo tão sério como a é a vida sacramental para aqueles que a querem seguir, contamos com a seriedade de consciência de quem realiza o ato sacramental e de quem o acompanha e avalia. Se faltar a esta base, em relação a isto e a tudo… vamos acreditar que tudo seja feito com seriedade, e vamos exigir essa seriedade. Se algum caso muito notório de desrespeito desta seriedade e regras, isso seria verificado e devidamente reprovado… não vejo aqui um problema maior do que noutros setores, é uma base geral de seriedade que vale aqui e vale em tudo.

Acredita que isto possa resolver parte significativa dos casos existentes de divorciados recasados, que sofrem por não poderem comungar ou confessar-se? 
Eu aí nem preciso de achar, porque se trata de verificar o número de verificação da nulidade do alegado casamento que se dão e vermos que os caso é grandíssimo. Até por uma certa experiência empírica de ouvirmos os casos e ouvirmos como é que as pessoas pretensamente se casaram. Infelizmente é assim…

Quanto aos outros, muitos dos defensores de uma maior abertura para com as pessoas em situações irregulares, têm-se socorrido de declarações do Papa em que ele pede uma maior abertura para dizer que ele vai mudar tudo. Mas acolher essas pessoas significa aceitar as suas situações? 
O acolhimento refere-se às pessoas. Cada batizado tem o seu lugar nesta casa da família dos filhos de Deus. No que diz respeito à prática sacramental, temos de entendê-la como um todo, pois os sacramentos não vivem independentes uns dos outros. Pelo Batismo entra-se em casa. Mas enfim, mesmo não estando nós em condições dessa vida sacramental plena, estamos sempre em condições para uma vida sacramental que o nosso estado de batizado nos habilita.

Não depreende, portanto, das palavras do Papa que ele está a declarar que vai aceitar essas situações irregulares dentro da Igreja? 
Com certeza que não. Não devemos fazer avaliações subjetivas, e a situação, não sendo a que propomos, é a que existe, e a pessoa está antes, durante e depois de tudo isso.

Acha possível que, dentro da doutrina, nomeadamente em casos pontuais, ou em situações em que o cônjuge é abandonado e o parceiro não deixa qualquer solução de reconciliação... 
A Igreja, em toda a sua moral e aplicação moral, inclusive na vida sacramental, já faz esse raciocínio. A proposta é o que é, a apreciação caso a caso das circunstâncias faz-se a outro nível mais pessoal e interpessoal, porque é aí que se deve fazer…

E aí é possível estabelecer diferenças para as situações que são diferentes? 
Isso com certeza.

Porque temos pessoas que nunca viverão de forma completa, ou fora da comunhão da Igreja, ou fora da alegria de uma vida familiar plena... 
Sim… trata-se de vermos como devemos conjugar cada vez melhor a verdade sacramental com a vida de cada um e as circunstâncias subjetivas e objetivas. Temos de ver tudo isso sem pôr em causa nenhum dos termos.

E adequando as coisas a cada pessoa e cada caso? 
Isso é o que já acontece, e quem está dentro da igreja sabe que é isso que se faz.



Outra das questões que tem sido debatida foi a necessidade de melhorar a preparação para o matrimónio, e promover o acompanhamento posterior dos casais. Uma preparação mais exigente, e mais espaçada no tempo, é necessária? 
 Isso já está dito, até por João Paulo II, que dizia que a preparação para o matrimónio começa na casa dos pais e na catequese. Porque isto trata-se da educação para uma vida em função do outro, e isto é uma educação longa, que começa em casa, com a noção de que há o menino, mas há a menina, a avó, o parente que está doente e precisa de atenção, a refeição que aparece na mesa mas que é preciso colaborar. Coisas tão simples que vão educando no sentido da atenção ao outro, uma dai que está descentrada em si e centrada em Deus e nos outros que mais precisam. E essa é a grande preparação para uma comunhão real e de compromisso como é o caso do compromisso matrimonial. A preparação significa uma preparação para viver não a seu bel-prazer, mas em função dos outros.

Mas muitos casais que chegam à preparação imediata não vêm nessas condições… Deve essa preparação imediata ser mais exigente no sentido de acompanhar os casais?
Tornar as coisas claras, para os casais saberem ao que se estão a comprometer, sacramentalmente, envolvendo o próprio Deus nesse ato, com certeza. Agora estas são as disposições gerais, e depois temos o caso a caso, em que há pessoas que aprendem mais depressa que outras. Há uma meta a atingir, mas depois temos de ver caso a caso.

Mas há paróquias que têm apenas um encontro, ou nenhum, e depois…
E depois, o depois é que é importante. Saber como se sustenta a vida matrimonial. Por exemplo, há bocadinho, quando falávamos da reorganização comunitária em chave familiar. Nós reparamos que muitas das nossas celebrações dão uma importância muito grande ao sufrágio dos defuntos, “missa por alma”, como se diz. Damos igual relevo às comemorações matrimoniais? “hoje é o aniversário deste e daquele casal na nossa paróquia”, fazemos isto? E nem precisamos de esperar pelos 25 anos, fazem dois, fazem três… damos suficiente relevo ao compromisso matrimonial na nossa vida paroquial? É algo que parece simples, mas é muito importante. Eu conheço párocos que, todos os anos, tendo as direções dos casais, enviam uma felicitação a quem faz anos de matrimónio. Coisas simples mas que dão à vida matrimonial um acompanhamento e uma atenção como deve ser.

Um acompanhamento da comunidade… 
Da comunidade, precisamente, comunitário. Há tentativas nesse sentido, mas ainda falta muito. Qual é o lugar que nós damos à celebração do batismo que insere na família dos filhos de Deus aquela criança que os pais trazem à comunidade? Vemos isso com gosto, a nossa família cristã a crescer? A mesma coisa para os avós, que dão à comunidade cristã uma atenção prioritária e permanente ao primeiro núcleo que é o da igreja doméstica. Manter constantemente a referência matrimonial e familiar no âmago da comunidade cristã. Da família igreja doméstica à família dos filhos de Deus.

Coincidência ou não, começam a aparecer medidas mais efetivas de apoio à natalidade em Portugal, e este ano o número de nascimentos parece estar em curva ascendente, como não se via há uns anos. Estamos a preocupar-nos mais com a família? 
Um movimento no qual devemos estar todos atentos e ativos. O matrimónio, mesmo que não seja sacramental, não é um exclusivo cristão. Nós colocamos a pessoa de Jesus Cristo no seu centro. Paulo diz que quem casa, casa-se no Senhor, e isto tem uma envolvência. Há muita inspiração cristã na sociedade portuguesa, e esse é um dos pontos em que fazemos o reconhecimento feliz que há incidência. O Patriarcado está também a viver um tempo sinodal.

De que forma pode o Sínodo de Lisboa ser enriquecido pelo Sínodo de Roma? 
Bom, isso só saberei no final do sínodo em Roma (risos). Mas quase que adianto que, estando este caminho sinodal de Lisboa a refletir sobre as variadas reflexões do Papa Francisco na Evangelii Gaudium, está a fazê-lo projetando-se para o futuro. Esse futuro passará certamente por este revigoramente comunitário, esse revigoramento comunitário passará certamente pela presença mais forte das famílias nas nossa comunidades cristãs, e aí conjugam-se muito as duas coisas.